Um pouco de história…

Começamos o ano de 2020, em Janeiro, com a Escola Aqui Eu Fico pulsando vida. Com o Projeto Verão foi possível encontrarmos em cada espaço e por diversos momentos a espontaneidade do brincar das crianças, conforme a estação sempre nos permitiu. Experiências refrescantes foram a base para as nossas aprendizagens, ou seja, aliviar o calor com borrifadores, dar banho nos brinquedos, regar com cuidado a horta, culinárias geladinhas e correr pátio afora até mais tarde foram exemplos frequentes do nosso cotidiano escolar.

Em Fevereiro, além da continuidade do Projeto, aconteceram encontros com novos amigos chegados na Escola, reencontros com colegas que retornavam de férias, assim como descobertas dos professores e salas que acompanhariam e acolheriam a trajetória deste ano. Tudo isso, celebrado com serpentinas, confetes, músicas, bailes, lanches debaixo da laranjeira e os demais ares divertidos do nosso período de Carnaval.

No dia dois de Março, o ano escolar oficialmente começava. Com ele, iniciavam-se as reuniões entre as famílias e professores, um novo projeto surgia (Projeto Adaptação & Identidade) e, inevitavelmente, a mescla de sentimentos, como euforia, expectativa, ansiedade, insegurança, disposição, alegria compuseram o nosso ser. Entretanto, aos poucos, aprendemos a conviver com outras relações sociais, organizar-se em distintos tempos e espaços, sentir cheiros diferentes, enxergar a vida com horizontes ampliados. Fomos nos conhecendo, percebendo os demais e buscando conexões com o mundo de modo mais harmonioso e confiante. A cada dia, compreendemos a importância dos movimentos de vida das crianças, a riqueza de apreciar o intenso crescimento delas a cada instante. E como isso, posteriormente, acabou se tornando ainda mais significativo para aplicarmos em nossas vidas.

No entanto, inesperadamente, fomos apresentados a uma pandemia. Nos encaminhamos obrigatoriamente para um distanciamento social e, de repente, tivemos que parar e repensar outras possibilidades de ser, fazer, conhecer e conviver. Reorganizar, ressignificar e flexibilizar as propostas planejadas para o seguimento do ano letivo tornaram-se questões indispensáveis. A Educação Escolar de maneira remota (principalmente a Educação Infantil) apresentou-se como um dos significativos desafios a serem encarados.

Mesmo com as dificuldades em andarmos por trajetos incertos, contamos com a parceria da comunidade escolar, através de diferentes estratégias, para garantirmos a maneira mais conveniente e competente das crianças seguirem seus ricos processos de aprendizagens. Sendo assim, ainda que distantes fisicamente, conseguimos manter as relações afetivas, provocar construções de conhecimentos e continuar fazendo histórias educacionais por essa arte de viver. Afinal, conforme afirmou Eduardo Galeano, “Os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me contou que somos feitos de histórias”.

Por isso, considerando esse relevante período vivenciado em 2020 é que surgiu o Projeto “Reinventando Um Novo Tempo”. Com ele, buscou-se aproximar, experimentar e entrelaçar com as crianças, professores e familiares propostas educativas em diferentes recursos e linguagens de comunicação, a fim de colaborar para a compreensão daquilo que vivemos ao longo deste ano, sem abdicar do compromisso de compartilhar informações, construir conhecimentos e religar saberes. Termos como “Chamada de Zoom”, “Atividade pelo ‘Watts’”, “e-mail”, “Vídeo-aula” fizeram parte de nossos dias. Os lares também se legitimaram como significativos espaços educativos e o tempo, como o próprio nome do Projeto diz, foi preciso aprender a reinventá-lo.

Inevitavelmente, a saudade das crianças e do movimento da Escola a cada dia aumentava. Ainda que num contexto de solicitação de distanciamento foi se pensando possibilidades de aproximação segura para amenizar o aperto no coração. Com isso, não foram poucas as situações de buzinadas em frente ao portão, chamamentos e acenos pelas janelas dos carros.

Em Maio, iniciamos a entrega de kits na forma “drive-thru”. Com horários estabelecidos, as famílias recebiam um conjunto de materiais e propostas organizado de forma cuidadosa e criteriosa pelos professores.

Kits entregues:

kitsData de entregaTema
1MaioMateriais da minha escola
2JunhoFesta Junina
3JunhoTraços, sons, cores e formas
4JulhoSonhos Gelados
5Agosto“152 razões para dar colo”
6AgostoO mundo encantado do folclore
7SetembroProjeto específico de cada turma
8SetembroFesta Farroupilha
9OutubroToda criança quer…
10OutubroBoo! It’s Halloween!

Enquanto as propostas inseridas em kits eram realizadas, as análises sobre protocolos e tomada de medidas de segurança sanitária para uma possível reabertura da Escola e um retorno gradual das crianças também acontecia. Em 8 de outubro, atendendo a todos os critérios protocolares de saúde estipulados pela Prefeitura de Porto Alegre/RS, a Escola Aqui Eu Fico reabriu as suas portas. E,

com ela, aqueles sentimentos de um período de adaptação e readaptação voltaram a fazer parte do nosso cotidiano. Todavia, seguimos juntos, enquanto uma comunidade escolar, buscando, aprendendo e se adequando nos fazeres pedagógicos com um comprometimento e cuidado exemplares.

Claro, sem esquecer de que um verdadeiro sorriso é capaz de ultrapassar as máscaras, transbordando e transparecendo também pelos olhos seja numa brincadeira de sala seja no pátio. As escutas atentas num momento de Roda, não sendo feitas apenas pelos ouvidos, mas abertas para a compreensão daquilo que as crianças passaram, perceberam e sentem a respeito desse período tão atípico. A valorização dos momentos de convivência no coletivo, ainda que com restrições de toques, mas com o entendimento da importância e da potência que essa troca de energias brincantes possui.

Infelizmente, a pandemia ainda não acabou. Porém, sabemos o quanto de aprendizagens ela já nos trouxe e o quanto de desafios seguirá nos colocando. Inegavelmente, uma significativa trajetória educacional foi realizada junto com a comunidade escolar, mas ainda é preciso caminhar. E, como diz o ditado africano, “se quiseres andar ligeiro nessa vida, ande só. Mas se quiseres chegar bem longe, acompanhado é bem melhor”.

(Texto escrito por Dinorá Simoneto, Melisa Pacheco e professor Fernando Campiol)